A área de Violência Institucional e Segurança Pública – VISP – atua no combate à violência promovida pelo Estado. Se, de um lado, a omissão do Estado brasileiro na garantia de direitos fundamentais à população pobre e negra representa, em si, uma grave violência, de outro, a atuação institucional é responsável pela sistemática violação de direitos desta mesma população. Neste sentido, se destacam, de um lado, a política de segurança pública e atuação dos órgãos repressivos do Estado a partir de uma lógica bélica e militarizada e, de outro, a criminalização da pobreza e o encarceramento em massa de jovens negros e pobres, que evidenciam o racismo estrutural da sociedade brasileira.
No campo da segurança pública, um dos problemas cruciais concentra-se no fato de que o sistema de segurança – concebido em grande parte nos anos da ditadura militar, na linha da ideologia da segurança nacional – é ainda extremamente militarizado e bélico, antagônico ao processo de democratização. Da década de 90 em diante, sob o pretexto da Guerra às Drogas, observou-se a ampliação do aparato repressivo do Estado e o desenvolvimento de uma política de segurança pública centrada no controle e gestão da pobreza. Exemplos emblemáticos são as megaoperações policiais e a ocupação militar permanente em favelas – como se observa nas Unidades de Polícia Pacificadora, no Rio de Janeiro, e em ocupações das Forças Armadas nas operações de Garantia da Lei e da Ordem. A conseqüência deste modelo é, justamente, o extermínio da população negra e pobre, atingindo prioritariamente moradores de favelas e periferias, as maiores vítimas das execuções sumárias, torturas e desaparecimentos forçados.
De outro lado, observa-se no Brasil um inaceitável crescimento da população privada de liberdade. No início da década de 90, a população aprisionada no Brasil era de cerca de 90 mil pessoas. Transcorridas três décadas do período democrático, tem-se mais de 700 mil pessoas presas em condições insalubres e desumanas, em espaços superlotados, em inequívoca contradição com os princípios basilares de um Estado Democrático de Direito e com compromissos internacionais com os Direitos Humanos.
Com os protestos intensificados a partir de junho de 2013 foi possível perceber que o estado de exceção imposto pelo modelo de segurança pública se estendeu de modo contundente àqueles que lutam por direitos. As manifestações populares têm sido marcadas pela dura repressão do Estado, através do uso abusivo de armamento menos letal, da detenção arbitrária em massa e criminalização de defensores de direitos humanos e movimentos sociais, indicando que o modelo utilizado tem como intuito também a desmobilização das lutas sociais que se colocam de forma crítica ao modelo de sociedade.
A Justiça Global realiza o monitoramento e a denúncia das violações cometidas pelo estado brasileiro na área de segurança pública e nos espaços de privação de liberdade, principalmente no que diz respeito ao modelo militarizado empregado nos territórios e nas ruas, explicitando o extermínio e o encarceramento da população negra e pobre e o desrespeito da política de segurança pública e do sistema de justiça criminal aos direitos humanos. A organização tem pautado a desmilitarização das policias, o desencarceramento, o enfrentamento ao racismo e a revisão da política proibicionista de drogas, por considerar que são pontos que apoiam a política que culmina nos altos índices de homicídio e no superencarceramento, sobretudo da juventude pobre e negra. As estratégias de atuação da Justiça Global passam pelo monitoramento e denúncia de violações, incidência nas políticas públicas de direitos humanos, realização de pesquisas, publicação de relatórios, atuação em rede, advocacy e incidência nos mecanismos internacionais de proteção dos direitos humanos da OEA e da ONU.