Nota em solidariedade aos Guarani e Kaiowá: O Racismo Religioso e o Discurso de Ódio matam Lideranças Religiosas Tradicionais no Brasil

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Diante de mais um caso de assassinato de povos originários, causado por intolerância e racismo religioso, organizações da sociedade civil, entre elas a Justiça Global, publicam nota de solidariedade ao Povo Guarani e Kaiowá, que teve uma de suas lideranças religiosas, Ñandesy Sebastiana Galton e seu companheiro, Rufino Velasquez, mortos carbonizados no dia 18 de setembro.

Relatos informam que ameaças foram feitas dias antes dos assassinatos, envolvendo arrendamentos ilegais, intolerância e racismo religioso contra as suas práticas religiosas.

Leia a nota na integra:

No dia 18 de setembro, os corpos da liderança religiosa Ñandesy Sebastiana  Galton, 92 anos, e de seu companheiro Rufino Velasquez, do Povo Guarani e  Kaiowá, foram encontrados carbonizados na Terra Indígena Guasuti, no  município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul, na casa onde viviam. Relatos  informam que ameaças foram feitas dias antes dos assassinatos, envolvendo  arrendamentos ilegais, intolerância e racismo religioso contra as suas práticas  religiosas.  

A Ñandesy Sebastiana era uma liderança religiosa reconhecida por guardar  incontáveis rezas tradicionais (mborahé, ñembo’e) Kaiowá. Junto foi destruído o  Xiru Ñandesy, um símbolo religioso similar a um oratório, responsável pela  guarda de seres e poderes espirituais. 

No dia 29 de junho de 2023, a Kuñangue Aty Guasu – Grande Assembleia Das  Mulheres Kaiowá e Guarani lançou o Dossiê “O Racismo e a Intolerância  Religiosa: As sequelas de invasões (neo)pentecostais nos Corpos Territórios das  Mulheres Kaiowá e Guarani/MS”, denunciando as violações ao sagrado direito à  liberdade religiosa contra o sagrado Kaiowá e Guarani  (https://drive.google.com/drive/folders/1O7tLDZBGznFIJjkEKQmNoqPC7VWACF0V?usp=shari 

ng).  

Alice Wairumi Nderuti, Assessora Especial da ONU para a Prevenção ao  Genocídio e o Discurso de Ódio, esteve no Brasil de 1 a 12 de maio desse ano,  para realizar visitas oficiais aos estados de Roraima, Mato Grosso do Sul e Rio  de Janeiro. 

Junto com a ACT ALLIANCE, o Fórum Ecumênico ACT Brasil – FE ACT BRASIL  e a Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil – AMDH BRASIL organizaram os encontros da sociedade civil brasileira no DF, MS e RJ,  em parceria com IBASE, Justiça Global, CIMI, CONIC, FLD, KOINONIA,  PROJETO LEGAL. 

Em seu relatório final, a Assessora Especial afirmou que ‘Os povos indígenas  são alvo constante de discursos de ódio que os discriminam, usam como  bodes expiatórios e os desumanizam, tornando mais fácil marginalizá-los  e atacá-los. Se esse discurso de ódio não for controlado, pode se  transformar em incitação à discriminação, hostilidade ou violência, o que  é proibido pela lei internacional de direitos humanos, e pode levar a  ataques violentos sistemáticos e generalizados contra a população  indígena no Brasil”.

O racismo religioso, aliado ao assédio aos territórios tradicionais pelo  agronegócio, vem produzindo discurso de ódio, intolerância e violência religiosa contra os saberes, as crenças e as práticas tradicionais dos povos indígenas. A  monocultura em grande escala é responsável por crimes de lesa humanidade  contra os povos e comunidades tradicionais no Brasil.  

É urgente que o Estado Brasileiro investigue os crimes de racismo religioso e  condene grupos e pessoas responsáveis, que garanta a proteção de lideranças  religiosas ancestrais, em especial as mulheres, como Ñandesy Sebastiana  Galton e Mãe Maria Bernadete Pacífico. 

Porto Alegre/RS, 27 de setembro de 2023.

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