A Justiça Global manifesta profunda preocupação diante das declarações do secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, que ameaça investigar e, consequentemente, processar os moradores do Complexo da Penha e do Alemão envolvidos na remoção de corpos, sob a acusação de suposta “fraude processual”.
Enquanto o secretário busca sistematicamente criminalizar os moradores das favelas, permanecem sem resposta perguntas fundamentais como: onde estavam os agentes públicos responsáveis pela remoção dos corpos e pela realização da perícia? Por que as famílias e vizinhos tiveram de recolher os corpos dos mortos com as próprias mãos? Deixar corpos abandonados, sem resgate, perícia ou cuidado — como visto no IML — é a nova forma de punição do Governo do Estado do Rio?
Ao longo de todo o dia de ontem, a Justiça Global esteve na Penha documentando o cenário de barbárie deixado pela megaoperação policial. São rastros de sangue pelas ruas, cápsulas de balas espalhadas, testemunhos de desespero de pessoas que ainda buscavam por mortos e desaparecidos, e equipamentos públicos fechados.
A ausência de perícia, a falta de informação a intimidação contra quem denuncia as violações configuram uma grave afronta ao Estado Democrático de Direito. A tentativa de criminalizar moradores que fazem com as próprias mãos o que é dever do Estado escancara a lógica de criminalização da pobreza e o racismo estrutural que o governo do Rio de Janeiro perpetua, transformando as favelas em territórios de exceção.
Foto da publicação: REUTERS/Ricardo Moraes