Maio é mês de luta: mães e familiares de vítimas da violência de Estado realizam ações por memória, justiça e reparação

Diversas atividades foram realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O mês de maio é símbolo de dor e resistência para mães e familiares de vítimas da violência de Estado em todo o Brasil. Em 2025, a data marca os 19 anos dos Crimes de Maio, série de chacinas que ocorreram em 2006, após confrontos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e forças de segurança pública em São Paulo. A estimativa é que 564 pessoas tenham sido mortas em apenas nove dias, entre 12 e 21 de maio daquele ano, sendo 505 civis e apenas 59 agentes públicos, conforme relatório do Laboratório de Análise da Violência da UFRJ.

A cada agente público morto, 8,6 civis foram assassinados, muitos com indícios de execução sumária. Até hoje, não houve responsabilização dos agentes estatais. “São duas décadas de luta, mas ainda estamos aqui. Precisamos tirar as vendas da Justiça para que ela possa nos enxergar”, afirmou Débora Maria da Silva, fundadora do movimento Mães de Maio e mãe de Edson Rogério, uma das vítimas de 2006, à Agência Brasil.

Na última quarta-feira (8), familiares, movimentos sociais, juristas e pesquisadores lançaram, em São Paulo, um Tribunal Popular para julgar, de forma simbólica, o Estado brasileiro pelos Crimes de Maio. A iniciativa será realizada até maio de 2026, quando os crimes completam 20 anos. Para Débora, o Tribunal representa a chance de “colocar o Estado brasileiro no banco dos réus”, diante da omissão histórica do sistema de justiça.

Segundo Juliana Borges, escritora e coordenadora da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, a falta de responsabilização “expõe a lógica seletiva e racista do sistema penal, onde vidas negras e periféricas são tratadas como descartáveis”. Para ela, o Tribunal Popular é um ato político, pedagógico e um “exercício de justiça comunitária e restaurativa”.

Encontro nacional reafirma luta por justiça e desmilitarização

Entre os dias 14 e 17 de maio, Pernambuco sediou o VII Encontro da Rede Nacional de Mães e Familiares Vítimas do Terrorismo do Estado, reunindo mais de 50 coletivos e organizações de todo o país. O evento resultou na publicação de uma carta política com demandas por justiça, reparação e o fim da militarização da vida.

“A nossa escolha não deve ser entre a falta de convívio familiar e unidades superlotadas. Existem outras medidas socioeducativas que não perpassam a privação de liberdade”, afirma a carta.

Leia mais sobre o encontro e a carta final aqui.

Ações em todo o país lembram vítimas e exigem justiça

No Rio de Janeiro-RJ, o coletivo Mães de Manguinhos promoveu, em 16 de maio, o 11º Levante Antirracista, em memória de Johnatan de Oliveira de Lima, morto há 11 anos. Sua mãe, Ana Paula Oliveira, segue na luta por justiça. A Justiça Global esteve presente. Dias depois, em 20 de maio, também acompanhou o ato “Justiça por João Pedro”, jovem de 14 anos morto por policiais civis em 2020. Em 2024, os agentes foram absolvidos, mas a família recorreu. A decisão sobre a ida ou não dos réus a júri popular foi adiada após pedido de vista de um desembargador. Os policiais civis Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister foram absolvidos em primeira instância.

Também foi lançado o Projeto EnfrentAção, uma iniciativa da Unifesp, do movimento Mães de Maio e do Ministério da Justiça. O projeto fará escuta qualificada de até 150 mulheres em cinco estados (SP, RJ, MG, BA e CE), garantindo acesso à memória, à reparação simbólica e ao apoio multiprofissional.

Outro ato simbólico está marcado para o dia 12 de maio, na cidade de Santos, data que remete ao início dos Crimes de Maio, em 2006, quando rebeliões e ataques do PCC e a posterior resposta do Estado mergulharam São Paulo em uma onda de medo, violência e mortes.

Crédito da capa: Wesley Alvarenga/Desterro. 

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