
Justiça Global se posiciona contra o brutal assassinato do jovem indígena Everton Lopes Rodrigues e exige justiça e proteção para os povos indígenas do Paraná.
Posicionamento
A Justiça Global repudia com veemência o assassinato brutal de Everton Lopes Rodrigues, indígena Avá-Guarani de 21 anos, filho do cacique Bernardo Rodrigues Diegro, da Aldeia Yvyju Awary, localizada em Guaíra–PR, na fronteira entre Brasil e Paraguai. O corpo de Everton foi encontrado decapitado, no último sábado (12/07), em um milharal, ao lado de uma carta que ameaça comunidades indígenas e agentes da Força Nacional de Segurança Pública.
O documento deixado no local reivindica a autoria do crime e anuncia novos ataques, incluindo invasões a aldeias e atentados contra ônibus escolares. A carta recorre a discursos racistas e difamatórios, chamando os indígenas de “paraguaios” e os associando falsamente ao crime organizado. É uma tentativa de criminalizar a luta dos povos indígenas, justificar a violência e barrar o processo de demarcação de seus territórios.
O assassinato de Everton ocorre em um contexto alarmante de intensificação da violência contra o povo Avá-Guarani, impulsionada pela reação violenta de fazendeiros, milícias e grupos armados locais às retomadas territoriais em curso na região.
Em março, Marcelo Ortiz (Ku’i), também indígena Avá-Guarani, foi encontrado decapitado em circunstâncias semelhantes. Os ataques resultaram ainda em duas casas incendiadas, plantações destruídas, disparos contra aldeias, tentativa de atropelamento e uso de agrotóxicos como arma química contra pessoas e animais.
Já em janeiro, um ataque de pistoleiros à aldeia Yvy Okaju feriu duas crianças e dois jovens indígenas. À época, a violência se seguiu à decisão do Ministério da Justiça de reforçar o contingente da Força Nacional de Segurança Pública na região. Mesmo com essa presença, os ataques não cessaram. Lideranças indígenas estão atualmente sob proteção do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), mas as ameaças persistem.
A Terra Indígena (Tekoha) Guasu Guavirá está hoje cercada pela monocultura de soja e milho e sobreposta a 378 propriedades rurais. Segundo a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), mais de 60% da área já identificada como território tradicional está ocupada pelo agronegócio, enquanto os indígenas conseguem acessar menos de 1%.
Além disso, há dezenas de ações judiciais — como reintegrações de posse e interditos proibitórios — movidas por prefeituras e pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), que tentam anular a demarcação já reconhecida pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). O processo está paralisado desde 2018.
Enquanto isso, o povo Avá-Guarani vive confinado em pequenas áreas ou em acampamentos de retomada, sob constante risco e em condições precárias.
Expulsos de suas terras nas décadas de 1940 a 1980 devido à expansão agropecuária e à construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, os Avá-Guarani enfrentam até hoje as consequências da destruição ambiental: desmatamento, poluição das águas e do solo e o alagamento de partes significativas de seu território tradicional.
Atualmente, lidam com dificuldades para garantir a própria subsistência, incluindo o acesso à terra produtiva, água potável e infraestrutura básica de educação, saúde e transporte. Também denunciam episódios recorrentes de racismo em áreas urbanas — com a negação de suas identidades étnicas e nacionais — e casos de maus-tratos em escolas e unidades de saúde, inclusive contra crianças e adolescentes indígenas.
Diante de mais esse capítulo de uma longa história de violência e invisibilização — agravada pela tentativa de legalização do esbulho territorial por meio da tese do Marco Temporal — a Justiça Global manifesta sua profunda solidariedade aos familiares de Everton e ao povo Avá-Guarani.
Exigimos investigação rigorosa, responsabilização dos grupos armados que atuam na região e medidas urgentes de proteção às comunidades indígenas e seus territórios. Isso inclui a retomada imediata do processo de demarcação da Terra Indígena Guasu Guavirá e a garantia de sua integridade.
Nenhum direito a menos. Nenhum indígena a menos.
Justiça Global
16 de julho de 2025