Protesto cobra justiça por Herus, jovem morto por ação do Bope durante festa junina em favela

Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (08), no bairro do Catete, Zona Sul do Rio de Janeiro, para exigir justiça pela morte de Herus Guimarães Mendes, jovem de 24 anos assassinado durante uma operação do Bope no Morro do Santo Amaro.

Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (08), no bairro do Catete, Zona Sul do Rio de Janeiro, para exigir justiça pela morte de Herus Guimarães Mendes, jovem de 24 anos assassinado durante uma operação do Bope no Morro do Santo Amaro. 

A ação ocorreu na madrugada de sábado (07), durante uma festa junina. Herus, que era office boy de uma imobiliária e pai de uma criança de dois anos, levou dois tiros e não resistiu. Outras cinco pessoas ficaram feridas, entre elas um adolescente de 16 anos.

Vídeos nas redes sociais mostram a festa acontecendo minutos antes dos disparos: apresentações de quadrilha, crianças brincando e moradores celebrando. A ação violenta da polícia interrompeu o evento e instaurou o terror em mais uma favela carioca. 

Segundo relatos de sua mãe, Mônica Guimarães Mendes, Herus foi baleado enquanto comprava um lanche para ela. Ainda segundo seu depoimento, agentes do Bope alteraram a cena do crime, arrastando o corpo, e debocharam da situação enquanto ela tentava socorrer o filho.

“A polícia, que era para proteger, tirou a vida do meu filho”, declarou a mãe da vítima.

Após o enterro de Herus, manifestantes saíram em passeata até a Glória e depois subiram até o local da operação. O ato, que reuniu familiares, moradores, movimentos sociais, organizações de direitos humanos e parlamentares, exigiu responsabilização, o fim da violência de Estado contra a população negra e periférica, e defendeu o direito à cultura nas favelas. 

Também foram entoadas palavras de ordem pelo fim da Polícia Militar, da criminalização da pobreza e contra o genocídio na Faixa de Gaza. A marcha circulou do Catete à Glória, encerrando com um minuto de silêncio no local onde ocorria a festa junina do Santo Amaro. 

Durante o protesto, um motorista avançou com o carro sobre os manifestantes e chegou a colocar uma arma para fora e atirar para o alto. O homem, que foi identificado como policial, foi perseguido e detido em flagrante

Familiares de outras vítimas marcam presença em solidariedade 

A presença de mães de vítimas da violência policial reforçou o caráter coletivo da luta contra o genocídio da juventude negra. Entre elas, estava a família de Kathlen Romeu, jovem negra de 24 anos que estava grávida quando foi atingida por um tiro de fuzil durante uma operação policial no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, em junho de 2021. Eles tinham acabado de sair de uma missa em sua homenagem.

Bruna Oliveira da Silva, do coletivo Mães da Maré, cujo filho, Marcus Vinicius também foi vítima há quase 7 anos, lamentou que mais pessoas estejam na mesma situação que ela: “A gente vem na luta há muito tempo. O movimento de familiares de vítima da violência do Estado, infelizmente, vem crescendo a cada dia. Há sete anos, eu vejo a bala que matou meu filho atravessando outros corpos, vitimando mais filhos e trazendo mais mães para o nosso movimento. Infelizmente, o movimento de mães e familiares é um movimento que mais cresce”

Paula de Oliveira, mãe de Jonathan — morto em 2014 — desabafou: “A gente nasce com um alvo nas costas”. A ativista e ex-vereadora Mônica Cunha responsabilizou o Governo do Estado: “Vai fazer 20 anos que meu filho foi assassinado, e cada um que se vai é a mesma ferida aberta de novo. Não existe solidariedade vinda de Cláudio Castro”.

Justiça Global exige transparência e investigação

Após contato com a família no sábado (08), a Justiça Global enviou ofícios à Polícia Militar, ao governo estadual e ao Ministério Público do Rio de Janeiro exigindo esclarecimentos sobre a operação, identificação dos agentes envolvidos e a divulgação de um relatório completo sobre a ação.

Reação do governo: exonerações e afastamentos

Momentos antes do protesto, no domingo (08), o governador Cláudio Castro (PL) exonerou o coronel Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, e o coronel André Luiz de Souza Batista, do Comando de Operações Especiais (COE). Além disso, determinou o afastamento de 12 policiais que participaram da operação.

A medida do governo, embora importante, não encerra a urgência de medidas estruturais para conter a letalidade policial e garantir o direito à vida nas favelas. 

Letalidade policial: o padrão que se repete

A responsabilização dos envolvidos e a reparação à família de Herus são passos fundamentais para romper com a lógica de impunidade que marca a atuação das forças de segurança no Rio de Janeiro.

Vale destacar que não é um acontecimento isolado. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, ao menos, 974 jovens entre 0 e 29 anos foram baleados em toda a Grande Rio desde que Claudio Castro assumiu a gestão, em maio de 2021. Mais de um terço deles (36%) foram atingidos durante ações policiais. Das vítimas que tiveram o quesito raça/cor identificados, 75% eram negras. 

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