Obra de Diosmar Filho inaugura o quarto volume da Coleção Caminhos e propõe uma leitura crítica sobre racismo ambiental, território e imaginários coloniais.
A Justiça Global, em parceria com a Associação de Pesquisa Iyaleta, lançou o livro “A Terra gira em torno do Eixo Imaginário: Escala Racial Global na Natureza Terra”, segundo título do geógrafo e pesquisador sênior da Iyaleta, Diosmar Filho. A obra integra o quarto volume da Coleção Caminhos da Justiça Global e teve apresentação ao público em Belém, durante a COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, e também em evento especial na Kaza 123, no Rio de Janeiro – RJ, na última quinta-feira (27).

Com apresentação do geógrafo Jorge Luiz Barbosa (professor titular da Universidade Federal Fluminense – UFF) e prefácio de Cristiane Faustino (assistente social, presidente da Justiça Global e coordenadora institucional do Instituto Terramar), o livro propõe uma reflexão sobre como a construção de imaginários espaciais e temporais sustenta desigualdades raciais e ambientais em escala global.
“A Terra gira em torno do Eixo Imaginário: Escala Racial Global na Natureza Terra”
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Um olhar geográfico sobre o racismo e a formação dos imaginários coloniais
Na apresentação, Jorge Luiz Barbosa destaca que o trabalho de Diosmar Filho oferece “um território de saberes e fazeres em utopias”. Para ele, ao colocar em movimento o “Eixo Imaginário”, o autor desafia convenções e reposiciona territórios como a Caatinga, frequentemente estigmatizada, revelando-a como espaço de beleza, afeto, biodiversidade e modos de vida quilombolas historicamente invisibilizados.
No prefácio, Cristiane Faustino aponta que o autor articula o debate sobre o que denomina Estado Racial no Brasil, tema central para compreender as injustiças ambientais e climáticas que se manifestam em escala mundial. Diosmar parte de conceitos fundamentais da Geografia – como os referenciais Norte-Sul e o marco zero do meridiano de Greenwich — para demonstrar como essas convenções alimentam imaginários de dominação e hierarquização racial. Nesse percurso, dialoga com intelectuais negras e negros como Clóvis Moura, Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Luiza Bairros, Valdecir Nascimento e Nêgo Bispo.
Racismo, clima e justiça territorial
Com linguagem ensaística, A Terra gira em torno do Eixo Imaginário oferece não somente uma análise, mas uma formação crítica sobre o Estado Racial Global e seus impactos na crise climática contemporânea. A obra é organizada em sete capítulos e acompanhada de uma linha temporal e espacial – elaborada pela ilustradora Maria Mariana em conjunto com o autor do projeto gráfico da coleção, André Victor – que reúne cem anos de eventos climáticos e geológicos nos cinco continentes, afetando mais de 114 milhões de pessoas.
Segundo o autor, esses dados revelam como os avanços científicos e tecnológicos convivem com a persistência do racismo ambiental, especialmente nos territórios do Sul Global. O livro convoca à construção de uma justiça territorial que possibilite a implementação do que denomina “Tempo de Transição Não-Racial”, em sintonia com o compromisso global de limitar o aumento da temperatura média da Terra a 1,5°C até 2030.
Coleção Caminhos da Justiça Global
O livro integra o quarto volume da Coleção Caminhos, iniciativa da Justiça Global voltada a ampliar o debate público sobre justiça socioambiental, enfrentamento ao racismo e ao machismo, e defesa da terra e do território como direitos coletivos e indissociáveis do acesso aos bens comuns da natureza.

A publicação será distribuída gratuitamente em sua versão impressa em português. As versões impressa e digital (ebook), nos idiomas português, inglês e espanhol, terão lançamentos previstos durante a COP30, que ocorrerá em Belém, em novembro.
Sobre o autor

Diosmar Filho é geógrafo, natural de Passagem dos Teixeira (Candeias–BA) e residente em Salvador há 30 anos. Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), é pesquisador sênior e integrante da Coordenação Científica da Iyaleta – Pesquisa, Ciências e Humanidades. Lidera a linha de pesquisa “Ordenamento Territorial, Desigualdades e Mudanças Climáticas”, coordena o projeto “Adaptação Climática: uma intersecção Brasil 2030” e atua como ponto focal da Iyaleta na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC). Atualmente, é bolsista CNPq DTI – Nível A no projeto “ELSA MOB Bahia” do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA).
É autor de artigos, livros, notas técnicas e publicações sobre ordenamento territorial urbano, racismo, territórios quilombolas, população negra, desigualdades e adaptação climática. Seu primeiro livro, “A Geopolítica do Estado e o Território Quilombola no Século XXI”, foi lançado em 2018. Como cineasta, dirigiu os documentários “IGI OBA NILE – Memórias de Mãe Raidalva” (2014) e “Terras que Libertam — Histórias dos Cupertinos” (2021), além de coordenar, em 2022, o caderno temático Racismo Ambiental e Re-existência de Territórios Negros em Todo o Mundo.
