Via Aliança Pela Volta Grande do Xingu
Belém (PA) – Durante a COP30, a mesa “Mineração, Direitos e Justiça Climática na Amazônia–O Caso Belo Sun e Potássio do Brasil”, realizada no dia 13 de novembro, no Amazon Climate Hub, reuniu lideranças indígenas e ribeirinhas, juristas, movimentos sociais e organizações da sociedade civil em um chamado coletivo contra a expansão da mineração em territórios tradicionais na Amazônia. O encontro, promovido pela Aliança pela Volta Grande do Xingu (AVGX), denunciou as violações de direitos e o avanço predatório das empresas Belo Sun e Potássio do Brasil, cujos projetos ameaçam povos e comunidades no Pará e no Amazonas.
A Belo Sun, empresa canadense, quer instalar a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil na Volta Grande do Xingu, atingindo vilas, áreas de produção de alimentos e territórios indígenas. O projeto prevê remoções, grande consumo de água e uma barragem de rejeitos maior que a de Mariana. Já a Potássio do Brasil, em Autazes (AM), pretende explorar potássio dentro e no entorno da Terra Indígena Soares e Curituba, do povo Mura, gerando conflito interno, denúncias de assédio e violando o direito à consulta prévia. Os dois empreendimentos ampliam a pressão da mineração sobre comunidades e florestas na Amazônia.
A abertura do evento ficou marcada pelo testemunho emocionado de Ana Barbosa, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que relembrou os impactos da hidrelétrica de Belo Monte e a força das retomadas populares na Volta Grande do Xingu. “Nossas terras são raras porque nelas há vida que cura. São raras porque nelas estão as mãos que resistem, as mesmas que se sujam com a lama da mineração e ainda assim fazem brotar abóboras, feijão e florestas onde antes havia capim”, afirmou Ana.
Da comunidade indígena Pacajaí, a liderança Claudevan Taywade Juruna fez um apelo por reconhecimento territorial e justiça diante das ameaças da Belo Sun. “O rio está morto embaixo de onde moramos. Não há mais igapó, não há mais piracema. E agora querem tirar também o que restou da nossa terra. Nos chamam de falsos indígenas, mas a nossa história é viva”, denuncia o líder Juruna, recordando sobre os sérios impactos socioambientais que seu povo e território já sofreram em razão da implantação da Hidrelétrica de Belo Monte, e que agora são ameaçados pela mineração.
Milena Mura, coordenadora da Organização das Mulheres Indígenas Mura (OMI), trouxe o grito das mulheres de Autazes contra o Projeto Potássio Autazes: “quando uma mineradora chega, ela chega para destruir. O que chamam de desenvolvimento é a morte das mulheres, das crianças e das futuras gerações. Nosso território é a nossa casa, é o nosso corpo. E pela nossa casa nós vamos lutar até a última gota de sangue Mura”.
Do campo jurídico, o procurador regional da República Felício Pontes destacou o desrespeito sistemático ao direito de consulta prévia. “As empresas aprenderam a não negar a consulta, elas a falsificam. Transformam audiências públicas em supostas consultas para enganar o Judiciário. Isso é uma armadilha colonial”, frisou.
A internacionalista Gabriela Sarmet, da cosmopolíticas, conectou as violações locais à geopolítica global da mineração. “Mais de 70% das reservas dos ditos minerais críticos do planeta estão sobre terras indígenas e tradicionais. O que se vende como transição energética é, na verdade, só um novo formato do mesmo legado colonial de extrativismo exploratório sobre terras e corpos”, criticou.
Representando o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Rener Rabelo encerrou a mesa conclamando à organização popular. “Não existe mineração sustentável, o que existe é um país sendo saqueado”, disse Rabelo.
O evento terminou com um chamado à unidade, sintetizado por Ana Laíde: “A defesa do Xingu é a defesa da Amazônia. Nossa unidade é a única garantia de que a vida e o rio prevaleçam sobre o lucro.”
Fotos: Oruê Brasileiro / Acervo ARAYARA.org