Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça | Quinze anos do assassinato de Dorothy Stang

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Impossível esquecer daquele 12 de fevereiro. Era por volta das 7h30 quando numa estrada de chão do acampamento de Boa Esperança, no município de Anapu, no Pará, dois pistoleiros dispararam seis tiros contra a missionária americana Dorothy Stang. Irmã Dorothy tinha 73 anos quando foi covardemente assassinada. Segundo David Stang, seu irmão, ela dizia que “Deus nos deu esta grande terra para ser compartilhada por todos nós”. A luta pela partilha da terra foi a sua sentença de morte. Atuava num território onde existem cerca de 30 milhões de hectares de terra grilados. Não se acovardou diante das intimidações de grupos poderosos. Denunciava incansavelmente a atuação deles nos órgãos competentes. Tanto que seu assassinato foi encomendado por dois fazendeiros: Vitalmiro Bastos de Moura e Regivaldo Pereira Galvão.

O modelo econômico brasileiro de expropriação dos recursos naturais em detrimento da vida e da garantia de direitos impõe um cenário de violência continua contra comunidades rurais, indígenas e tradicionais por todo estado do Pará e coloca em risco a vida de defensoras e defensores de direitos humanos. Nos últimos 5 anos aconteceram mais de 15 homicídios em Anapu no contexto dos conflitos agrários. Segundo dados parciais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), até dezembro do ano passado ocorreram no Brasil 29 assassinatos decorrentes de conflitos no campo. Das mortes por conflito de terra em 2018, 57% foram no Pará. Ainda de acordo com a CPT, nos últimos 40 anos 53 ativistas, entre eles sindicalistas, religiosos, ambientalistas, foram mortos no estado. O Pará sangra e é sangue preto e pardo derramado. (1)

O contexto que já é ruim pode piorar com o sucateamento intencional de órgãos como o INCRA e a Funai; a proposta de flexibilização da lei de terras, que pretende legalizar a grilagem; e o avanço do agronegócio na Amazônia. Esse cenário macabro vulnerabiliza ainda mais as defensoras e defensores que atuam na região. Por isso, neste 12 de fevereiro também prestamos a nossa solidariedade a Padre Amaro, religioso, defensor de direitos humanos, que luta pela divisão das terras para a agricultura familiar e pela preservação das florestas como um contraponto ao processo exploratório dos grandes latifúndios. Ele esteve por anos ao lado da Irmã Dorothy e sofre um constante processo de perseguição e criminalização, com acusações infundadas, pelo seu trabalho junto aos camponeses e comunidades extrativistas, os mais pobres.

Padre Amaro, estamos com você!
Irmã Dorothy vive!

(1) Segundo dados do último Censo o Pará tem maior percentual dos que se declaram pretos ou pardos no país.

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